As petrolíferas angolana, Sonangol, e, francesa, Total, assinaram hoje, em Luanda, um acordo de compra e venda dos Blocos 20 e 21, que custou numa primeira fase 400 milhões de dólares (359,5 milhões de euros). Os acordos destes Blocos localizados na bacia do Kwanza, foram rubricados pelos presidentes da Total, Patrick Pouyanné, e Sonangol, Sebastião Martins.
Em conferência de imprensa, Sebastião Martins referiu que as negociações levaram “bastante tempo”, considerando um acordo importante para trazer desenvolvimento à bacia do Kwanza.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Sonangol, o acordo tem várias cláusulas e foram acertados os valores de modo a recuperar fundamentalmente o despendido pela Sonangol com os dois blocos, cuja participação foi comprada à norte-americana Cobalt.
“De realçar que o valor neste momento negociado prevê a possibilidade, numa primeira fase, de um valor de 400 milhões de dólares e seguidamente duas tranches, a depender da evolução do preço do petróleo, que permitem um valor adicional de 1.25 dólares por barril por cada produção que nós atinjamos e cujo preço esteja próximo dos 65 dólares por barril”, explicou.
Sebastião Martins referiu ainda que nas duas tranches poderão ser atingidos os valores adicionais de 250 milhões de dólares (224,7 milhões de euros) e, em função dos níveis de produção que forem atingidos “ultrapassar com certeza os 750 milhões de dólares (674,1 milhões de euros)”.
“A Total é um operador de reconhecida importância no país e de competência também reconhecida. O facto de podermos trabalhar com a Total na operação conjunta deste bloco vai também trazer maior dinamismo e competência à Sonangol”, sublinhou.
Ao intervir na cerimónia, o presidente do Conselho de Administração da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG), Jerónimo Paulino, disse que para o bloco 20 está prevista a compra por parte da Total de 50% de participação, passando o grupo empreiteiro a ser constituído pela Total como operador, com 50%, pela British Petroleum (BP) (30%) e a Sonangol Pesquisa & Produção (20%).
Jerónimo Paulino realçou que na primeira fase será operador a Total e numa segunda fase, a operação será transferida para a Sonangol Pesquisa & produção.
Relativamente ao Bloco 21, está prevista a aquisição de 80% de interesse participativo pela Total, passando o grupo empreiteiro a ser constituído pela Total, como operador (80%), e Sonangol Pesquisa & Produção (20%), e em situação semelhante ao Bloco 20, a petrolífera estatal angolana tornar-se-á operadora.
“Estes acordos permitirão que sejam desenvolvidas descobertas realizadas de petróleo bruto, de gás e condensados, mas não só, permitirá também a busca continua de novas reservas”, disse Jerónimo Paulino.
De acordo com o administrador da ANPG, o objectivo desta extensão é a realização de exploração adicional nesses dois blocos.
O Bloco 21 está localizado na parte central da zona offshore da bacia do Kwanza, com uma lâmina de água que varia entre os 300 e os 1.700 metros, enquanto o Bloco 21 se localiza na parte centro-sul da zona ‘offshore’ da bacia do Kwanza, com uma lâmina de água que varia entre os 1.600 e os 1.800 metros.
Com 17 poços de pesquisa e avaliação já perfurados, os Blocos 20 e 21 abrangem várias descobertas, incluindo Cameia, Mavinga, Bicua e Golfinho, em torno dos quais a Total e os seus parceiros irão concentrar os seus esforços para criar e valorizar um polo de desenvolvimento.
Num comunicado de imprensa, a Total sublinha que está comprometida a executar um programa adicional de trabalhos de pesquisa com o objectivo de identificar potenciais recursos.
Por sua vez, o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos de Angola, Diamantino de Azevedo, realçou que com os acordos de compra e venda entre a Sonangol e a Total foi dado mais um passo importante para a indústria petrolífera do país.
Diamantino de Azevedo ressaltou que ficou acordado entre as partes a constituição de uma empresa, que tempos depois passará a operar um desses activos, desejando que “possa ser os dois activos”.
Velhos amigos do (nosso) petróleo
Recorde-se que, por exemplo, a Sonangol e a Total assinaram em Dezembro de 2017 vários acordos de cooperação, entre os quais uma “joint-venture” para a importação e distribuição em Angola de produtos refinados do petróleo. O CEO da Total, Patrick Pauyanné, tinha nessa altura elogiado o desempenho de Isabel dos Santos na liderança da Sonangol…
Os acordos foram assinados em Luanda pelo então Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), Carlos Saturnino, e pelo presidente director-geral da Total, Patrick Pauyanné.
Na altura, Carlos Saturnino disse que os acordos servem para o relançamento da cooperação entre as duas petrolíferas, para alavancar também as actividades da indústria petrolífera de forma global, “tanto do ‘upstream’ (cadeia produtiva) como do ‘downstream’ (transporte e distribuição) e também algumas acções que terão impacto no ‘midstream’ (transformação), mais directamente relacionadas com a utilização do gás”.
Um segundo acordo teve a ver com relançamento da exploração petrolífera em Angola, através do bloco 48, tendo Carlos Saturnino recordado que os últimos blocos que o país lançou para exploração foram concluídos em Dezembro de 2011.
“Ou seja, estamos há seis anos a trabalhar com os mesmos blocos e nos últimos anos não temos exploração. De maneira que relançar a exploração em Angola é extremamente importante, porque é a partir daí que a gente vai assegurar o futuro, enquanto companhia petrolífera”, disse.
Segundo Carlos Saturnino, estavam em curso também outras actividades do ‘upstream’ no bloco 17, com vista a desenvolver-se e colocar-se em produção alguns activos que já foram identificados e descobertos há alguns anos, nomeadamente aos blocos Acácia e Zínia, mas também Zínia na fase número dois.
A formação de quadros foi igualmente acordada entre as duas companhias, no sentido do reforço e aprofundamento de conhecimento e capacidades do capital humano.
Carlos Saturnino frisou a existência de um compromisso antigo com a indústria petrolífera, de 2011, que é o centro de investigação e tecnologia do grupo Sonangol, que fazia parte das licitações concluídas há seis anos.
“De forma geral, em termos de capital humano, vai haver cooperação mais alargada, formação de quadros, trocas de experiências, uma ênfase também para a Sonangol Pesquisa e Produção, já que é o braço que a Sonangol utiliza para o ‘upstream’ em termos de redes e desenvolvimento do bloco 3, integridade dos activos no bloco 3, tratando-se de um bloco que está em produção há várias décadas e tem imobilizações muito antigas, que precisam de ser mantidas e melhoradas, mas de forma integrada”, explicou.
Relativamente à “joint-venture” para a distribuição e possível participação na importação de produtos refinados de petróleo, o presidente da Sonangol considerou a parceria entre as duas petrolíferas como muito importante, porque a nível da Sonangol Distribuidora e Sonangol Logística poderá ter impacto no redesenhar das estruturas organizacionais, do posicionamento estratégico no mercado para as duas subsidiárias.
“Vamos ver qual vai ser o comportamento com a introdução desse novo “player” de maneira que isso vai ajudar-nos na delineação estratégica que serão feitas para estas empresas”, disse, salientando que esta iniciativa terá igualmente impacto em outras actividades desenvolvidas com o Ministério da Energia e Águas, para onde grande parte do gasóleo importado é destinado para a produção de electricidade.
“Tudo isto faz parte da mesma cadeia que estamos a analisar para melhorar o abastecimento no país, melhorar a eficiência, evitar estrangulamentos e também queremos ver se conseguimos baixar os custos, a factura mensalmente gasta pelo estado para a importação de produtos derivados do petróleo”, salientou.
Por sua vez, Patrick Pauyanné manifestou satisfação pelo novo impulso que Angola dava à área dos petróleos, muito afectada com o baixo preço do petróleo, que dá mostras de alguma melhoria com um preço um pouco acima dos 60 dólares por barril.
“Hoje assinamos vários acordos entre os quais o novo impulso para a exploração no bloco 48, que é um bloco em águas ultra-profundas, no qual teremos uma parceria com a Sonangol. Encontramos condições para avançar com o projecto no bloco 17, Zínia na fase 2. Quero agradecer ao presidente do conselho de administração da Sonangol por isso ter sido possível e lançar o projecto”, frisou.
Patrick Pauyanné sublinhou que, sendo a Total o primeiro operador do país, com uma produção diária de mais de 600 mil barris, era importante que se reunisse com o novo presidente da Sonangol, anunciando ainda sobre a realização de um encontro com o Presidente angolano, João Lourenço.
Recorde-se, entretanto, o que o mesmo Patrick Pouyanné, CEO da Total., disse sobre a liderança de Isabel dos Santos na petrolífera nacional: “A Sonangol está a fazer exactamente aquilo que nós fizemos. Quando o preço do petróleo caiu todos sentimos dificuldades. A sua prioridade tem sido a transformação e equilíbrio das contas, o que tem sido positivo e permite voltar a pensar no desenvolvimento”.
Por sua vez, Eldar Saetre, CEO da Statoil disse: “Estamos em Angola há 26 anos e por isso temos uma grande experiência neste mercado que tem sido muito importante para a nossa empresa. Sempre tivemos uma relação muito próxima com a Sonangol e queremos mantê-la por muito tempo. Por isso estamos para ficar e encontrar novas oportunidades de colaboração com a Sonangol”.
Também Clay Neff, presidente da Chevron África afirmou: “Vemos as mudanças que a Sonangol está a fazer com muitos bons olhos. Existe uma colaboração muito positiva entre a Sonangol, a Chevron e os outros membros da indústria para melhorar as condições de investimento em Angola”.
Em Setembro de 2015, o director da maior petrolífera estrangeira em Angola, a Total, avisou o governo angolano de que se os custos de investimento não descessem significativamente, o país arriscava-se a ficar sem indústria do petróleo.
“Se não houver uma significativa redução dos custos, tudo vai parar”, disse o director-geral da Total em Angola, Jean-Michel Lavergne, em declarações à agência financeira Bloomberg, nas quais explicou que caso as condições não melhorem, a indústria petrolífera angolana “vai desaparecer”, partindo do princípio que o preço do barril de petróleo se mantém nos 60 dólares.
Em causa estavam as várias medidas que o Governo angolano tomou nos últimos anos, que fizeram os custos de produção aumentar em 500 milhões de dólares por ano, disse Jean-Michel Lavergne durante um fórum empresarial em Luanda.
Em Junho desse ano Angola ultrapassou pela primeira vez a Nigéria enquanto maior produtora subsariana, tendo bombeado 1,77 milhões de barris por ano, contra 1,9 milhões da Nigéria, embora no total de 2014 a média de produção tenha sido de 1,66 milhões, comparado com os 1,9 milhões da Nigéria.
Os poços de petróleo em águas profundas na costa de Angola têm um desenvolvimento muito caro, e a indústria precisa de preços entre 60 a 80 dólares por barril “para a operação fazer sentido”, disse Jean-Michel Lavergne.
As novas normas sobre as emissões o desperdício, aliadas aos preços baratos, significam que algumas companhias estão a pensar em sair do país, que se tornou o mais recente membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em 2007, disse na altura o director da câmara de comércio EUA – Angola, Pedro Godinho.
“Há muitas petrolíferas que estão a ponderar sair do país se o cenário mundial não mudar”, disse o responsável durante o evento em que participou também o director da Total em Angola, concluindo que a solução para a quebra nas receitas fiscais e consequentes dificuldades orçamentais “não é matar a galinha que põe os ovos de ouro”.
Folha 8 com Lusa